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Carla Rio abre o coração sobre samba, memórias e uma virada de vida na Europa

A mulher que canta o Recife com alma, coragem e muito samba no pé
Tem gente que nasce com a música por perto, mas só descobre seu lugar no palco quando a vida dá aquele empurrão inesperado. Tem história que parece roteiro de filme: um telefonema, uma mala feita às pressas, um palco do outro lado do oceano… e, de repente, tudo muda.
Carla Rio é uma dessas histórias. Uma voz doce e firme, que mistura samba com forró, lembrança com resistência, o Recife de ontem com o Brasil de hoje. Mas por trás da artista que encanta o público aqui e lá fora, existe uma mulher que viveu outras rotas antes de aceitar, de verdade, o chamado da sua essência.
Na entrevista a seguir, ela abre o coração e conta sobre infância, São João, justiça, machismo, memória e sonhos. Uma conversa rara, cheia de alma, que vale cada linha.

Carla Rio / Reprodução Instagram
1. Carla, você cresceu em um lar onde a música sempre teve protagonismo. De que forma a convivência com seu pai, o compositor Alírio Moraes, e com seu irmão, André Rio, moldou sua identidade musical desde cedo?
Com certeza influenciou meu gosto musical! Ouvíamos muita música de qualidade e meu pai sempre tocava violão à noite, depois do jantar, para cantarmos. Ele também costumava explicar as letras das músicas que não entendíamos. Com ele aprendi a gostar de samba e aprendi a cantar samba nas rodas que fazíamos no quintal de casa.
Já André, se profissionalizou muito cedo na música e tem sido o meu mentor. Com ele, tenho a oportunidade de cantar os nossos ritmos em vários países da Europa e cada show é um aprendizado novo.
2. Como era a atmosfera musical da sua infância no bairro de São José, em Recife? Há alguma memória marcante que você sempre leva para o palco?
Era tudo muito festivo, principalmente na época do carnaval. Assistíamos aos ensaios das escolas que iam desfilar e sempre havia um “sambão” pra gente ir nos finais de semana.
Adorava participar dos Ensaios das “Traquinas de São José”, escola de samba só de mulheres da qual fui integrante.
Meu primeiro show de samba com meus irmãos, foi nos Donzelos de São José, no Bar de Dona Odélia.
Tudo isso trouxe muito aprendizado, mas com muita naturalidade, porque comecei cantando em um meio onde todos me conheciam de criança, então, essa familiaridade e naturalidade eu tento levar pro palco.
3. Você se formou em Direito antes de assumir de vez a carreira artística. Em algum momento chegou a pensar em seguir essa outra profissão? Como foi esse ponto de virada para o palco?
Olha, eu comecei nos palcos aos 10 anos. No palco, eu cantei, dancei, desfilei e representei.
Minha primeira carteira profissional é de bailarina e até Musical eu já fiz.
Quando eu me formei em Direito e comecei a ganhar dinheiro com isso, achei que ia me aquietar rsrsrsrs, mas a essência da gente sempre fala mais alto e eu não estava feliz desse jeito.
Então, quando André me convidou para a “Turnê Viva Pernambuco”, em 2015, eu nem pestanejei… aceitei e passamos 1 mês viajando pela Europa, mostrando os nossos ritmos. Essa foi a minha virada de chave.
Hoje, eu concilio as duas profissões.
4. O que passou pela sua cabeça quando recebeu aquela ligação do seu irmão perguntando sobre o passaporte? Você já sentia que a música era seu destino ou foi uma surpresa?
O convite dele foi uma grande surpresa, porque ele tinha a opção de escolher muitas outras cantoras, com mais experiência que eu… nessa época, eu estava meio fora da cena e trabalhava só com advocacia.
Mas pensei que, se ele tinha me chamado é porque ele estava enxergando algo que talvez eu não estivesse… e foi a melhor coisa que fiz. Cantar no Festival de Montreux, para um público gigante e seleto, que gosta de música boa, foi realmente incrível e me deu a segurança de cantar para qualquer plateia.
5. Muitos ainda associam o samba quase exclusivamente ao eixo Rio-São Paulo, mas você mostra que o Recife tem samba — e dos bons. O que diferencia o samba arretado de Carla Rio dentro do cenário nacional?
Talvez o sotaque kkkkk e tb a influência de outros ritmos nordestinos, como o coco de roda, o maracatu, o afoxé. Eu gosto, as vezes, de brincar com todos esses ritmos e dar uma sonoridade um pouco diferente.
O que é muito natural, porque cresci ouvindo tudo isso.
Mas, o que eu digo sempre em meus shows é que o samba é do Brasil, o que muda é o sotaque de região pra região… o samba é o nosso cartão postal, a nossa identidade lá fora.
6. Como foi trabalhar com Dudu Nobre e Alceu Maia na faixa “Não Troco, Nem Dou”? Você se sente representando também uma luta feminina através dessa música?
Alceu é um amigo que o samba me deu e desde 2018 que ele faz minha direção musical, além de ser meu parceiro em várias composições.
O Dudu eu conheci nos camarins de programas de TV, no eixo Rio/Sampa e depois fizemos, aqui em Recife, o espetáculo “Raiz e Enredo”, no Teatro Valdemar de Oliveira.
Dudu é de uma generosidade sem igual e já gravou comigo duas músicas “Samba Arretado” e “Não troco, nem dou”, que são composições minhas e de Alceu Maia. Sou muito grata a ele e ao Alceu por me acolherem e por fortalecerem meu trabalho.
“Não troco nem dou”, fala disso também, de ocuparmos os nossos espaços, de não aceitarmos menos e de sermos protagonistas de nossas vidas e de nossa arte.
A nossa luta é diária e árdua em todos os sentidos… O samba sempre foi um ambiente muito machista, com pouquíssimas mulheres compositoras, principalmente.
Daí minha admiração por Dona Ivone, Leci Brandão, Jovelina, Clementina…todas elas pavimentaram na marra, o caminho que hoje trilhamos.
7. Seu show Encontro de Ritmos mistura forró, samba, frevo, coco… Como você enxerga essa mistura rítmica como forma de resistência e preservação da cultura popular?
Exatamente, essa mistura é proveniente da nossa cultura… ela é um mix de tudo que ouvi e vi na minha infância… é a minha verdade!
Nasci num Estado muito rico em termos de sonoridade, de ritmo e de experimento musical tb… isso é muito bom, porque tira a gente da caixinha e nos permite passear por outros caminhos.
O meu coração é do samba, mas nesse período junino, eu dou uma escapadinha pra alegrar o povo com essa mistura boa kkkkk
8. Qual a importância do São João para você, não apenas como artista, mas como mulher nordestina? Há alguma tradição familiar que você não abre mão nessa época?
Depois do carnaval é minha época preferida.
Acendemos sempre a fogueira às 18h do dia 23 de junho e a mesa é farta de comidas de milho, canjica, pamonha, bolo de milho, pé de moleque, cocada …. Ahhh e se tiver a família toda a gente faz uma quadrilha junina.

Carla Rio / Reprodução Instagram
9. No palco do São João do Recife Antigo, você misturou Jackson do Pandeiro com samba e forró. Como é reinterpretar esse “Rei do Ritmo” para uma nova geração?
É importantíssimo resgatar os ícones da nossa cultura popular. A gente precisa apresentar esses artistas a nova geração e contribuir para preservar a nossa história musical, a nossa raiz e a nossa identidade.
Um povo que não preserva e não valoriza a sua cultura popular é um povo sem identidade e fadado ao apagamento cultural.
10. “Samba, Meu Recife” é uma homenagem carregada de afetividade e memória. O que significou gravar esse clipe com a escola de samba Gigante do Samba? Você se emocionou ao revisitar essas lembranças?
Esse samba foi presente de André Rio pra mim e fala justamente das escolas que vivenciamos no Bairro de São José; fala da nossa infância e adolescência, por isso tem um sabor especial.
Fiquei muito feliz quando a Gigantes do Samba aceitou o convite de gravar comigo e transmitir toda aquela alegria e alto astral que a escola tem.
11. Em tempos tão acelerados, como você enxerga a força da memória e da tradição como combustível para a sua arte?
A gente precisa respeitar quem veio antes e honrar o caminho que foi aberto e que nos trouxe até aqui. Não se trata de saudosismo, mas de reconhecimento da nossa história.
O ato de compor pra mim é uma coisa sagrada, sabe? Uma mistura de inspiração, sentimento e observação do mundo.
Em tempos de música de plástico, música feita por IA, eu acho importantíssimo “beber da fonte”, para a gente não se esquecer de onde veio.
12. Você é presença constante na turnê Viva Pernambuco pela Europa. Como os públicos internacionais reagem ao encontro entre samba, forró e frevo? Alguma reação te marcou profundamente?
É incrível como os gringos amam os nossos ritmos. Que o samba é muito bem recebido lá fora, isso não tem dúvidas, mas a surpresa foi encontrar uma plateia que ama maracatu, forró e coco de roda, na Áustria e na República Theca. Inclusive, encontramos vários grupos de maracatus em Brno e em Hartberg.

Carla Rio / Reprodução Instagram
13. Há algum país ou cidade em que você sentiu que a conexão com o Brasil, através da música, foi ainda mais intensa?
A Europa é rica em festivais de verão e em todos eles, o Brasil está sempre presente, mas o que nos surpreendeu foi o Festival de Coburgo (Samba Festival Coburg), na Alemanha e o Festival e o Samba in Hartberg, na Áustria, porque são vários dias especialmente de música brasileira, com artistas brasileiros de vários ritmos.
14. Se pudesse apresentar o Brasil em uma única música, de sua autoria ou não, qual seria e por quê?
Samba arretado, me representa, pq traz essa mistura de que falei. Somos um povo mestiço e a nossa música não poderia ser diferente.
Mas em meus shows pela Europa costumo cantar sempre “Não deixe o samba morrer” e “Vou festejar”. Essas não tem erro. kkkk
15. Quais são os próximos passos para Carla Rio? Podemos esperar um novo álbum ou uma turnê nacional nos próximos meses?
Sim, já estou de malas prontas para Europa e, em seguida, devo aportar no sudeste, no segundo semestre.
Tem música nova pra ser lançada tb, no segundo semestre, e vou começar a gravar mais uma parceria com Alceu Maia.
Ou seja, vem muita coisa por aí!

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