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“Vovó Cici conta e o Grajaú canta: o mito da criação” é o enredo da Estrela do Terceiro Milênio

Ebomi do terreiro Ilê Axé Opô Aganju, em Salvador, na Bahia, Nancy de Souza e Silva, de 83 anos, é conhecida carinhosamente como Vovó Cici e, há mais de 50 anos, dedica sua vida aos Orixás e ao Candomblé e estreia, pela primeira vez, no Carnaval de São Paulo.

A escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, depois de nove anos, volta a falar sobre o tema de religiosidade afro. Desta vez, inspirado na forma encantadora de como a griô contadora de histórias, Vovó Cici, explica a criação do mundo pelos Orixás, o carnavalesco Murilo Lobo irá recriar na passarela do samba a história do início do mundo inspirada pelo mito Iorubá no tema: “Vovó Cici conta e o Grajaú canta: o mito da criação”.

“Seremos amplificadores de sua voz, de seu conhecimento, de sua fé, de sua emoção e desta incrível visão iorubana sobre o mito da criação. A intenção ao apresentar este olhar da crença Iorubá, é mostrar à todos os nobres valores, a beleza e a poesia da mitologia africana, difundindo conhecimento, promovendo reflexões e despertando consciências em busca da quebra de preconceitos contra as religiões de matriz africana”, explica Murilo Lobo.

Ao contar sobre o mito, Vovó fala da criação do mundo, da natureza, da participação do feminino e do masculino na criação da humanidade, e de como foi dado aos seres humanos o poder de transformar o bem em mal e o mal em bem. Além disso, ao narrar, a ebomi Cici, inclui lendas africanas, músicas, cantigas e orikis (orações) que também explicam sobre tudo que conhecemos. “Hoje sabe-se que o ponto inicial da história da humanidade começou na África”, conta a ebomi. Sendo assim, conclui-se que a cultura, a mitologia e a religião africana são saberes de tempos antiquíssimos, anteriores às demais religiões e, que só por este aspecto, já merecem respeito.

Neste enredo, também serão exaltados e homenageados os griôs do Carnaval. Os mestres reconhecidos por suas comunidades como detentores do saber que encarna as lutas e sofrimentos, alegrias e celebrações, derrotas e vitórias, orgulho e heroísmo das gerações passadas das comunidades sambísticas. Entre os homenageados estão: Mercadoria, Fernando Penteado, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Gabi e Vivi, Tia Cleuzi, entre outros.

“É importante e necessário trazermos temáticas que falem da importância da cultura e resgatem as referências africanas. Estamos muito felizes com esse enredo carregado de emoções, referências negras, afro-religiosas e com muita representatividade”, afirma o presidente Silvio Leite, conhecido como Silvão.

Vovó Cici de Oxalá

Carioca de nascença e soteropolitana de coração e cidadã oficial reconhecida pela prefeitura da cidade, Cici tem 51 anos dedicados à religião Candomblé. Trabalha com crianças e pesquisadores na Fundação Pierre Verger, em Salvador, na Bahia, com contações de histórias e palestras sobre diversos temas da cultura afro-brasileira. Trabalhou ajudando o antropólogo e fotógrafo francês, Pierre Verger, legendando mais de 11 mil fotografias ligadas à cultura afro-brasileira e em países africanos.

A apresentação do enredo aconteceu na noite de ontem (04/06), em uma grande festa, na quadra da escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, com a presença de Vovó Cici e toda comunidade da agremiação.

** Este texto não necessariamente reflete, a opinião do Planeta Samba

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